Vamos tornar-nos mais civilizados?

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Crónica Despardaladas de um Viajante Constipado - Capítulo II

Foi o tempo de dormir umas horitas e partir de Hammamet em direcção a Douz, onde visitámos um circo Romano, em muito bom estado de conservação, e que foi o maior que Roma construiu em África (na altura certa, mostrarei fotografias cá do Constipado na saída dos leões do dito circo). Foi nessa altura também que sofremos a primeira carga dos comerciantes que abundam nas cercanias do circo. Antes de entrar, comprei um lahafa (aquela espécie de turbante), pois rapidamente me apercebi que os meus conhecimentos e recursos de europeu, em termos de vestuário, estavam aqui completamente deslocados e eram despropositados. Depois de acesa discussão quanto ao preço da peça, lá chegámos a um acordo satisfatório para ambas as partes (creio que mais satisfatório para ele do que para mim). Quando o gajo ia colocar a coisa dentro de um saco preto, disse-lhe que não queria saco e queria que ele me ensinasse a colocar aquilo correctamente na cabeça. Aprendi a colocar aquilo de uma forma citadina, mas de que não gostava muito.
Os chapéus europeus que levava, todos cheios de furinhos que supostamente me refrescariam o ar junto à cabeça, não revelavam nem metade da eficácia do lahafa. Depois disso, comprei mais três ou quatro e todos os dias andava com um diferente. O que acontece é que existem várias formas de colocar o lahafa na cabeça, todas elas diferentes e incompatíveis. Se não me engano, o pano até muda de nome, para laharma, quando é colocado de algumas dessas formas. Só consegui fixar uma forma minimamente aceitável do modelo berbere, o mais eficaz de todos, do meu ponto de vista. Cada vez que entrava numa medina só ouvia falar em Ali-Babá, tendo imediatamente vontade de perguntar se estava a falar com algum dos quarenta ladrões, mas é melhor ignorar certas coisas...
Na longa maratona que me levou até Douz, tive também oportunidade de visitar uma "casa troglodita" (a expressão não é minha), que é escavada na montanha e os seus túneis são divisões fresquíssimas da casa, todas elas indo dar a um quintal, onde pude ver alguns animais que ali sobreviviam. O espectáculo foi deprimente, especialmente porque me senti a devassar um espaço que só a miséria abre a todos. Ciente disso, deixei algumas moedas no prato colocado para o efeito junto da saída, mas esse sentimento não me abandonou.
Antes da chegada ao hotel, uma última paragem para mais uma encenação. Fui andar de dromedário para as "portas do deserto". Aqui, a primeira coisa que fizeram a todos foi colocarem um djelahba por cima das nossas roupas e um lahafa à maneira berbere na cabeça. Depois, montámos os dromedários que, tal como no aviões, quase só apresentam perigos na descolagem e na aterragem. Aí é que é necessário agarrarmo-nos. E lá andámos uns mil metros de dromedário.
Aqui deu-se um pequeno incidente de que fui protagonista. O nosso grupo era identificado pela cor dos lahafas que eram vermelhos vinho. Quando de repente surgiu um outro grupo que tinha lahafas cor-de-laranja. Não resisti e gritei para a minha mulher que ia um pouco mais à frente, que o PSD tinha entrado em campanha aberta no deserto. "Olha a Manela Azeda o Leite debaixo do Preto", quando reparei no último elemento da equipa que ia a passo acabrunhado, gritei-lhe: "Olha o Dias Loureiro a pensar na vida!". Ela ria tanto que quase caiu do camelo, mas a coisa não caiu bem em alguns elementos portugueses da comitiva. Estávamos todos identificados.
Já quase no fim do percurso, perguntei ao meu guia se o dromedário tinha nome, respondeu-me que não. Perguntei-lhe a seguir que idade tinha e quantos anos iria viver. Respondeu-me que tinha oito anos e viveria entre quinze a dezoito anos. Eram visíveis as marcas de chicotadas por todo o camelo, especialmente nos quartos traseiros. A agressividade com que reagiu às festas que tentei fazer-lhe também me espantaram. Cheguei ao hotel, tomei banho de água morna e preparei-me para jantar...
À noite, fui a um jantar típico de não sei o quê. Antes do jantar propriamente dito, fomos ver um espectáculo que pretendia simbolizar as lutas a cavalo entre dois príncipes do deserto. Ficou a semelhança com um fraco número de circo. A grandeza de outrora, a ter havido e não ter sido fabricada por Hollywood, oferece agora o aspecto de um tupperware há muito fora de prazo e demasiado corroído.
Disseram-me que o jantar era berbere, mas os talheres ocidentais em cima das mesas e o vinho, negavam a autenticidade da coisa. Perguntei por chá e não havia... Este jantar foi musicado por um grupo folclórico local, mas a estridência de uma espécie de corneta que pretendia dar consistência a toda a peça musical não permitia que se jantasse em paz. Se os gajos estivessem a tocar a cem metros do local, a coisa estaria muito melhor. Para o final apoteótico reservaram-nos três dançarinas da dança do ventre, mas os autênticos males de ventre haviam de chegar no dia seguinte... a minha mulher passou a noite a correr para a casa-de-banho, enquanto eu dormia como uma pedra. Por muito que as raparigas se esforçassem, aquela dança do ventre também podia ser a dança dos cus, ou a dança das mamas a abanar ou a dança do que se quisesse. Estava desejoso de deixar este registo do "very typical" e regressar ao hotel.
Não perca os próximos capítulos

3 comentários:

MONKO disse...

UMA AUTENTICA VACINA.
FICOU CURADO.
EU BALDEI-ME AOS CAMELOS.
A CENA EM QUE PISEI UM TAPETE QUE
ESTAVA A ENTRADA DO TUMULO DO BARBEIRO DO PROFETA,OM GAGO COMEÇOU AOS BERROS COMIGO,PORQUE O TAL BARBEIRO TINHA FAMA DE SANTO.
EU PERGUNTEI AO GUIA SE ELE PREGAVA.
RESPONDEU QUE NÃO,MAS SO POR SER AMIGO DO PROFETA ERA CONSIDERADO SANTO.
HAVIA LA DOIS PELOS DA BARBA DO PROFETA QUE CURAVAM TUDO.
ERA A AGUA DE FATIMA DOS GAGOS.

Rebel disse...

fazia dos gagos mudos?
Temos cá um ministro que também é gago...

MONKO disse...

EH! PA!
ESTOU A A LEVAR COM RAZÃO. SO AGORA REPAREI NOS GAGOS!
UMA KALINADA REM DIREITO A PERDÃO.